Gentle Cage (Novel) - Capítulo 01
Pela primeira vez, Itsuki Hashimoto era capaz de ver a casa pessoalmente.
Havia caminhado por tanto tempo, que caminho parecia reto. Ele se dirigiu calmamente através da espeça neve, Itsuki franziu a testa. A estrada parecia velha e danificada, as extremidades eram marcadas com linhas brancas na maior parte desgastada. Não havia lugar para andar, apenas a densa vegetação que se perdia na floresta.
Será que ele já havia passado pela casa? Talvez a direção estivesse errada. Era uma ou outra. Será que ele estava totalmente perdido?
Ele deveria se virar e retornar?
Itsuki observou a cena ao redor. Era impossível ver por dentro da floresta, mas era difícil acreditar que a casa poderia existir em um lugar como esse.
Julgando pelos sinais de estrada, ele estava no caminho certo, e como a estrada sinuosa continuava, ele decidiu seguir ao cume da montanha.
Sentindo-se um grande perdedor, Itsuki parou de acelerar. De repente a estrada se abriu para ele. Ele não podia ver por trás das árvores da floresta, mas claramente, ele podia ver a área circundante. Parecia que antes havia uma plantação de arroz, mas parecia ter sido abandonada há alguns anos. Só restava a grama alta.
No meio da cena, uma misteriosa antiga fazenda apareceu, Itsuki parou, analisou o seu mapa e suspirou aliviado.
Ele já havia dirigido o carro da companhia algumas vezes, mas nunca havia andando por duas horas e meia. De repente, ele percebeu o quão nervoso estava. Seus dedos estavam doendo por dirigir tanto. Estava frio lá fora, mas as palmas de suas mãos estavam suadas e ele sabia que o clima não era a única razão para a sua ansiedade.
Itsuki olhou para o espelho retrovisor. Como sempre, alguns de seus longos e negros cabelos não estavam mais presos ao rabo de cavalo. Ele havia decidido deixar o cabelo crescer há oito anos. Agora estava com os cabelos longos, algo estranho para os homens. Mas agora, ele havia se acostumado com as pessoas olhando para ele.
Poderia soar ridículo para um estranho, mas o chefe de Itsuki não o deixava cortar o cabelo. Itsuki cortava as pontas uma vez por mês, certificando-se que seu cabelo estivesse limpo e arrumado.
Ele arrumava a gravata pelo espelho retrovisor, Itsuki percebeu o seu rosto cansado. Ele terminou de arrumar a gravata e parou o acelerador de novo. Com os anteolhos, ele notou um jardim em frente a casa. Ele estacionou cuidadosamente, certificando-se de não bloquear a RV já estacionada, então ele saiu do carro com sua pasta.
Só no campo poderia encontrar um jardim tão grande, com diferentes tipos de árvores. Algumas eram mais altas que a casa. Pareciam que estavam aqui antes do proprietário comprar o lugar. Algumas árvores havia se perdido, e estava cobertas pela densa neve. A paisagem vinícola parecia ao mesmo tempo desolada e bonita.
Depois de admirar o jardim, Itsuki parou em frente à porta.
Parando embaixo do toldo, ele removeu a neve e tocou a campainha que parecia estranhamente nova em comparação com o resto da casa.
Itsuki esperou, mas não havia respostas. Ele tocou a campainha outra vez, mas não ouviu nenhum barulho lá dentro.
Talvez a energia estivesse fraca. Ele olhou para a placa de identificação e nela estava talhado o nome “Masatsugu Tokiwa”.
De repente, percebeu que a RV estava coberta de neve. Ele pensou em voltar para o armazém geral, onde havia parado para perguntar o endereço a meia-hora atrás.
“Você está procurando por Tokiya, certo? O artista que vive na montanha?” o lojista havia dito. “Vá até o cume da montanha, há uma grande casa. Se uma RV estiver parada no jardim, há alguém dentro da casa.”
O senhor de meia idade ficou surpreso por alguém como Itsuki aparecer,
“Você é homem ou mulher?” Estava inquieto, olhando Itsuki com fascinação. Lá já havia sido um ponto turístico, então o homem estava acostumado com estranhos. Talvez Tokiwa houvesse escolhido morar em um lugar como esse por causa disso.
Será que eu deva voltar? Itsuki se perguntava. De repente, ele ouviu o barulho de dentro da casa. Ele ficou parado enquanto ouvia a porta se abrir.
“Hashimoto?” disse o homem alto, olhando de soslaio para Itsuki.
Itsuki não via Tokiwa há anos, então ele esperava por este tipo reação, então baixou a cabeça educadamente.
“Desculpe por vim sem avisar” disse ele sinceramente. “Mas eu posso falar com você por um momento?”
“Você está sozinho?” Murmurou Tokiwa, olhando para Itsuki como se fosse algum tipo de criatura bizarra.
“Sim,” Itsuki respondeu.
“O que houve com Kasaoka? Yamabe-sensei não veio com você?” Tokiwa persistiu em perguntar.
“Kasaoka está em casa com Yamabe-sensei.” Itsuki explicou. “Ele não queria deixálo sozinho. Por que está perguntando?”
“Bem, estou surpreso pelo fato deles deixarem você vim sozinho.” Havia um tom de aborrecimento que deixou Itsuki sem palavras.
Yasuyuki Yamabe era um reconhecido escultor e empresário, e tinha dois secretários pessoais. Itsuki era o mais novo assistente, arrumava os horários enquanto Kasaoka era o assistente mais antigo de Yamabe e era supervisor de Itsuki. Era estranho para Tokiwa que Itsuki viajasse sozinho, mas Itsuki se incomodou com o tom sarcástico de Tokiwa.
Mas o trabalho era mais importante do que os seus sentimentos feridos. Ele levantou a cabeça e olhou para Tokiwa.
“Viajo apenas quando necessário. Estou aqui a pedido de Yamabe-sensei.”
Tokiwa parecia chateado.
“Foi isso que te trouxe aqui?” Perguntou. “Por que mandaram você sozinho?”
“Eu tenho uma mensagem do Yamabe-sensei,” respondeu Itsuki.
“Então você veio sozinho?” Tokiwa disse em um tom surpreso. “O que você faria se eu não estivesse aqui?”
Itsuki tirou um envelope de sua pasta e entregou a Tokiwa. Ele ficou em silêncio enquanto Tokiwa olhava o envelope e rompeu o lacre com um longo dedo.
Masatsugu Tokiwa era um jovem e famoso escultor cuja fama só crescia a cada dia.
Ele havia trabalhado no estrangeiro durante algum tempo e havia até recebido um cobiçado prêmio por seu trabalho. Antes de ficar por conta própria, Tokiwa foi um dos estudantes de Yamabe e ambos ainda tinham contato um com o outro.
Isso porque Kasaoka havia dito a Itsuki que ele não precisava de se encontrar com Tokiwa. Itsuki achava que não era necessário, mas fez o que disse.
A Tokiwa gostava de Yamabe como um escultor, mas não como homem. Nunca fez esforço para manter contato com Yamabe. Por isso, se Itsuki o chamasse para ir com ele, Tokiwa provavelmente teria recusado.
Tokiwa juntou os olhos e voltou sua atenção para a carta. Itsuki prendeu a respiração ao ver Tokiwa mal-humorado. A última vez que haviam se encontrados foram seis meses antes da abertura de uma exposição de arte de um amigo em comum. Tokiwa havia recebido Yamabe, depois de ter evitado a noite toda. Embora Itsuki estivesse com Yamabe naquela noite, Tokiwa e Itsuki raramente se falavam.
“Então? O que você quer que eu faça?” Perguntou Tokiwa depois de ler a carta por um tempo.
“Você pode ver Yamabe? Nós faremos os arranjos necessários.” Itsuki replicou como um homem de negócios.
“Agora?” Tokiwa perguntou.
“Desculpe”, disse Itsuki. “mas Yamabe precisa vê-lo o mais rápido possível.”
“De jeito nenhum. Quem você acha que você é para mandar em mim assim? Vá para casa.” Gritou Tokiwa, devolvendo a carta para Itsuki.
“Mas… Tokiwa-sensei.” Itsuki suplicou.
“Yamabe-sensei não tem nenhuma razão para interromper o meu trabalho dessa maneira, eu não sou obrigado a obedecer”, resmungou Tokiwa. “Eu faço o que acho melhor.”
“Mas…” Itsuki começou.
“Yamabe-sensei tem muitas pessoas à sua disposição. Talvez alguém como você?”
Tokiwa disse friamente para Itsuki. Itsuki, de repente, sentiu como se seu coração estivesse gelado. Não era capaz de se mover ou reagir, viu a porta fechar na sua cara.
Itsuki suspirou. Este era um trabalho para os tolos, puro e simples. Não havia nenhuma razão para tentar convencer Tokiwa agora, não com ele desse jeito. Talvez amanhã fosse melhor. Ele poderia ficar em algum hotel da cidade. Eram quatro da tarde, ainda tinha muito tempo para encontrar um lugar para dormir.
Ele não esperava que Tokiwa concordasse de uma vez. Nem mesmo Yamabe ou Kasaoka.
“Ok, vá à luta” Disseram para ele.
Itsuki colocou a carta na pasta. Quando se afastou da casa algo chamou sua atenção. Ele engasgou com admiração. Grandes flocos de neves estavam caindo sobre o chão. Ele pegou um na mão e viu derreter.
A neve rangia sob seus pés enquanto caminhava de volta ao carro. Ao observar suas pegadas na neve, por algum motivo, teve um sentimento assustador. Então ele observou um celeiro que parecia estar chamando-o.
Ele parou próximo a RV de Tokiwa. Um pequeno riacho corria atrás do celeiro, cercada por rochas e solo. Caminhando cuidadosamente pela grossa neve, Itsuki pegou o caminho o levava até as margens do córrego, ajoelhou-se e tocou na água.
O comerciante havia dito que a casa Tokiwa ficava “no topo da montanha”, mas o cume era claramente mais distante. A água gelada escorria pela cúpula, fria o bastante para perfurar a pele. Itsuki sentiu-se nostálgico enquanto ouvia o som da água. Fazia tempo que não ficava sozinho dessa maneira.
Itsuki começou a trabalhar para Yamabe oito anos atrás. Desde aquele dia, nunca saiu do lado daquele homem. Às vezes, Itsuki saia por uma hora ou duas para atender os negócios, mas sempre retornava imediatamente. Ele nunca andava sozinho como gostaria.
Itsuki se agachou e observou a água por um tempo. Quando finalmente se levantou, ele sentiu um frio que atravessou o seu casaco. Ele cuidadosamente foi até a RV, e então observou a casa de Tokiwa outra vez.
Tokiwa originalmente havia comprado o lugar para ser o seu estúdio e residência.
Era fácil deduzir a idade da casa pela textura da madeira na varanda. Mas não parecia desgastada, apenas bem amável e muito usada. “Rústica” o descrevia perfeitamente. Cercado por montanhas e pela grossa neve, a casa parecia pitoresca.
Itsuki sabia que Yamabe nunca entenderia isso, afinal. Yamabe se importava com poucas coisas: A idade, o nome e a localização do lugar.
Diferente de Tokiwa, Yamabe gostava de coisas novas e que não tivessem sido tocadas por mãos humanas, qualquer outra razão ele não se importava.
Melhor ir andando, pensou Itsuki, sufocando uma tosse. Ele olhou para o relógio.
Havia passado uma hora desde que havia chegado ao lugar.
O carro da empresa não era feito para andar pela neve e Itsuki se sentia desconfortável por ter que dirigir pela estrada outra vez. Pretendendo voltar ao povoado, ele correu para o seu carro.
De repente, ele se congelou. Onde deixei as chaves? Pensou. Achava que havia deixado no bolso do casaco, embora ele não fosse daqueles que deixavam algo em no bolso. Como não gostava de dirigir muito, não tinha o hábito de carregar as chaves.
Ele tentou refazer o caminho, mas ainda não se lembrava de onde havia deixado as chaves. Será que havia caído em algum lugar do jardim?
Agora, a neve que caia estava ficando mais grossa, cobrindo tudo – incluindo o seu casaco – com uma crosta branca e macia. Se não se apressasse, as estradas logo se congelariam. Itsuki começou a chutar a neve com os seus sapatos, ainda procurando pelas chaves. No momento em que chegasse ao celeiro, ele decidiu que seria mais fácil caminhar pela montanha.
Mas ele não podia deixar o carro ali. Por um lado, não pertence a ele. Mas seria rude de sua parte deixar o carro no jardim de Tokiwa, principalmente depois de sido tratado daquela maneira. Itsuki se direcionou ao para o pequeno riacho, sua respiração emergiam em sopros brancos, mas como temia, estava sendo completamente coberto pela neve. A água estava pouco visível, dificultando distinguir a parte que era sólida.
Nervosamente, ele aproximou-se do banco. O ar daqui estava mais frio do que o jardim, e ele começou a tremer incontrolavelmente.
As chaves deveriam estar por aqui, ele pensou. De repente, a rocha abaixo dele desmoronou. Enquanto Itsuki escorregava, ainda segurando sua pasta, ele caiu duro no seu lado direito. Uma dor aguda atravessou a sua perna.
Itsuki estava esparramado no chão. Ele sentiu escoar frio em seu corpo. Enquanto levantava as mãos, ele viu que sua situação era realmente terrível. Suas duas pernas estavam presas dos joelhos para baixo. Apenas olhando para eles o fazia se sentir ainda mais frio do que já estava.
O sentimento de ter as suas calças molhadas e agarradas a suas pernas fazia tudo muito real. Enquanto tentava tirar as suas pernas, uma violenta dor percorreu todo o seu corpo. Ele tentou não respirar, tentando não gritar.
De repente, uma voz surgiu do nada. “O que diabos você está fazendo ai?”
Ele olhou para cima e observou Tokiwa olhando fixo para ele. Itsuki começou a se desculpar, mas Tokiwa abruptamente o cortou.
“Não peça desculpas, apenas diga por que veio parar aqui,” o escultor disse rispidamente.
Em pânico, Itsuki tentou sair dali, mas as suas pernas não estavam cooperando e ele estava afundando ainda mais. Agora o seu corpo tremia com o frio.
“Fique parado.” Tokiwa ordenou com uma voz grossa. “Você quer afundar ainda mais?”
Itsuki sentiu dois fortes braços por trás dele que o tirou para fora d’água. Deitado sobre a neve, com as pernas encharcadas, estava tomando fôlego para se desculpar ou mesmo dizer obrigado.
“Por que você veio até aqui nesse tempo?” Tokiwa gritou. “Realmente você…”
De repente, Tokiwa ficou em silêncio. Por um momento, parecia que ele deixaria Itsuki de cuidar de si mesmo.
“É melhor você vim comigo, eu acho,” ele finalmente murmurou. “Você não pode dirigir nesse estado.”
Então ele se levantou a começou a caminhar. Estava usando o mesmo jeans e suéter de antes, coberto com uma jaqueta de couro.
Como ele sabia que eu estava aqui? Itsuki se perguntou, olhando para Tokiya.
Mas Itsuki não estava em um bom momento para pensar. Ele colocou as suas mãos na neve e tentou se levantar, mas as suas pernas não ajudavam. Ele não conseguia se levantar sozinho, muito menos seguir Tokiwa. Seus tornozelos estavam queimando como se estivesse pegando fogo, seus ossos machucavam. Até mesmo o menor movimento de seu corpo o fazia gritar de dor.
Itsuki soltou um gemido baixo. O local que a roupa molhada tocava, estava dormente. Conforme o frio se espalhava, das suas costas para seus ombros, seus dentes começaram a bater. Ele ouviu os passos se aproximarem e viu Tokiwa contemplando o seu estado patético.
“Suas pernas estão bem? As duas?”
Itsuki olhou para cima. Tokiwa ajoelhou-se ao lado dele, fazendo uma careta.
“Não, eu estou bem. Eu consigo continuar,” Itsuki insistiu, forçando um sorriso. Ele esticou os joelhos. A dor percorria as pernas, embora ele não gritasse.
Tokiwa levantou Itsuki pelos ombros, o colocou sentado sobre a neve, então severamente agarrou seus tornozelos.
“Aaggh!” Itsuki ofegou, cerrando os dentes.
“Não consegue se levantar, não é?” Tokiwa zombou.
Tentando escapar de Tokiwa, Itsuki tentou se equilibrar com a perna esquerda, mas, de repente, encontrou-se flutuando. Fora levantado pelos braços fortes de Tokiwa.
Tokiwa limpou as calças de Itsuki com uma toalha, e enrolou nos joelhos dele, e cobriu suas pernas com uma toalha que estava no banco de trás do carro.
“Por favor, Tokiwa-sensei, eu posso cuidar de mim mesmo.” Itsuki implorou fracamente.
“Como você acha que vai andar?” Tokiwa disse silenciosamente, colocando o cinto em Itsuki. Ele sentou no banco do motorista e ligou o carro sem dizer uma palavra.
Itsuki queria entender onde estava indo, mas ele não se sentia confortável em perguntar à Tokiwa. Em qualquer movimento do carro a dor em suas pernas aumentava.
Ele apenas olhava para o para-brisa, e observava como os limpadores afastou a neve.