Reminiscência - Corações Indômitos - Ch. 04 | Temperança

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☪

 

 

— Planeta Akasha 07, Benjamin Connor. Residente local, trabalhador de tempo integral nos estoques de alimento. E-Eu achei o s-sen-nhor na m-minha p-port-ta…

 

— Ouch! — O Marechal gemeu de dor, a faca afrouxou da mão de Lucas e seu corpo pendeu para frente.

 

A faca caiu no chão e Benjamin, ao mesmo tempo num movimento rápido, se levantou ajudando-o a ficar de pé.

 

— M-Marechal, seu ferimento! Deite-se primeiro!

 

Lucas não pensou em questionar, seu corpo parecia pesar por uma nave inteira e a dor que sentia, parecia ser a nível molecular.

 

A última coisa que se lembrava era que estava na batalha com oz zergs. Havia uma horda com cerca de dez mil zergs. E dentre eles, cerca de quinhentos eram de nível SS.

 

Sua cabeça girou ao se recordar dos gritos de socorro de seus subordinados. Corpos sendo rasgados e comidos por aquelas bestas sem emoção.

 

Nunca havia sentido medo a esse ponto.

 

Ele se sentiu inútil perante aquela nuvem de zergs. E havia algo acima deles, organizando aquele ataque. Algo muito acima dele, que o fez recuar por um momento.

 

Lucas podia jurar que aquela coisa era ainda mais inteligente que um humano.

 

— Onde estou mesmo? — Ele perguntou novamente, ao deitar-se à cama, sem certeza.

 

— Planeta Akasha 07. — Benjamin respondeu com calma e se afastou.

 

O Marechal tinha uma expressão desgostosa e seus lábios estavam pressionados um no outro com força. Mesmo doente, Benjamin ainda conseguiu encontrar um tipo de beleza frágil naquela pessoa.

 

— Seu nome? — Perguntou com dificuldade.

 

— Ben. Benjamin, Senhor! — O mais novo respondeu como se falasse com seu superior no exército.

 

Lucas ignorou as formalidades e fez um pedido direto.

 

— Ling Xian… — Ele gemeu de dor. — Vivo?

 

O Marechal parecia se esforçar para dizer cada palavra. Ele estava suando consideravelmente.

 

— Ele está vivo. — Benjamin respondeu rapidamente.

 

Por um momento, Ben tentou esticar a mão para ajudá-lo a se secar, mas se lembrou do que Clive havia lhe dito.

 

“—Não entre em contato direto com ele! Toxina zerg em pouca quantidade é um veneno, mas a quantidade concentrada no corpo dele pode matar! Ele estar vivo é um milagre. Não tente encostar nele! Suor, saliva, sêmen, sangue, nem ouse se aproximar se não quiser morrer!”

 

— Já me fodi. — Ele havia acabado de praticamente abraçá-lo. — Lira, ligue para o Dr. Clive.

 

「Chamada sendo conectada…」

 

「Chamada sendo conectada…」

 

「Chamada sendo conectada…」

 

「Linha sem resposta. Não há sinal da starnet.」

 

— Maldição! Por que é justo hoje!

 

— Ben… Benjamin…

 

O jovem escutou o chamado de seu ídolo. Sua voz era rouca, de um tom baixo e seu nome quase saiu como um gemido. Mas, jogou esse pensamento atrás da cabeça quando o escutou continuar.

 

— Ligue… Ling Xian… — Sua voz baixou ainda mais, quase saindo como um sussurro.

 

Ben teve que se aproximar para escutá-lo, mas foi pego de surpresa. Uma mão poderosa o puxou para baixo, num movimento brusco, seu moletom foi agarrado. Ele estava tão próximo do Marechal, seu coração batia muito rápido.

 

— Contate Ling Xian secretamente, por favor.

 

Ao dizer isso, Lucas pareceu ter suas últimas forças e o aperto afrouxou. O Marechal desmaiou logo em seguida.

 

— Lira tente contato novamente com o Dr. Clive. — Ben praticamente gritou. — Akasha, libere os dispositivos de emergência.

 

— Mestre, não há como enviar uma mensagem sem starnet.

 

— Foda-se, Akasha! Apenas libere o alfa e o ômega! — Se exaltou.

 

Notando as alterações no humor de seu mestre, Akasha liberou dois orbes flutuantes. Eles rodearam Benjamin que os pegou e os colocou sobre a mesa.

 

Apertando uma sequência de pontos na superfície do orbe, toda sua estrutura desmontou. Dezenas de peças pequenas desabaram na mesa. Ele passou a mão sobre elas e as peças do orbe flutuaram em sua frente. Observando-as por um instante, começou a trabalhar.

 

As pequenas partes de metal negro foram se acoplando umas nas outras e em questão de poucos segundos, o orbe deu origem a outra ferramenta. Uma placa de metal quadrada e retangular, sem vida, foi colocada sobre a mesa. Ele fez o mesmo que no outro orbe.

 

Ben olhou em volta buscando o último complemento.

 

— Onde está aquela raridade? — Perguntou a si mesmo. — Ei Akasha, onde coloquei aquela pilha?

 

— O Mestre quer dizer que é aquele dispositivo arcaico criado por um homem cujo sobrenome é estranho, do século XVII no qual ocorre produção de corrente elétrica a partir de energia química originada de uma reação de oxirredução?

 

—Seja específica Akasha… — Bufou. — É esse dispositivo mesmo…

 

— Mestre, esse dispositivo foi jogado fora pela Akasha. Akasha acreditou que aquilo era velho demais para qualquer criação do mestre.

 

Benjamin encarou o robô cuja inteligência era de um adolescente. Ele estava em sua fase rebelde?

 

Não havia o que fazer. Uma vez que qualquer objeto vai para o lixo, não há como recuperar. Benjamin se jogou na cadeira, mentalmente exausto.

 

— Mestre, horas de sono ajudam a diminuir o cansaço físico.

 

— Oh! É mesmo?! — Ironizou. — Dê-me outras opções.

 

— Segundo as pesquisas offline, por meio de formulários e relacionado a depoimentos da sua faixa de idade, os internautas sugerem bater uma. Embora Akasha não saiba o que é isso, Akasha pesquisou ainda – online – que significa usar, geralmente, sua mão dominante sobre o me…

 

— Akasha! — O dono interrompeu seu adorável robô. — Não termine de dizer isso.

 

De repente, um apagão deixou a escuridão se sobressair. Os gritos dos moradores foram ouvidos de todas as direções.

 

Infelizmente, era uma cena bastante comum, a energia elétrica era instável demais nessa região do espaço, mas Benjamin estava mais preocupado com a pessoa deitada em sua cama.

 

“Deveria levá-lo até a clínica…, mas como?”

 

— Quais os níveis de reserva de combustível da moto?

 

— O tanque está cheio, mestre.

 

— Destranque a garagem. — Ele se levantou estranhamente energético. — Envie qualquer relatório do estado dele enquanto estiver lá embaixo. — Puxou o bastão de iluminação do bolso e atravessou a porta correndo.

 

Era tão escuro, o mesmo que viajar pelo espaço. Imerso na paz que a escuridão pode trazer.

 

Correu escada a baixo, saltando degraus e no último lance de escadas, pulou todos os sete degraus, pousando perfeitamente de pé no chão. Em seguida, deu alguns passos já abrindo a garagem. A porta de metal rangeu para cima e se enrolou próxima à laje.

 

As luzes de emergência brilharam. O depósito estava cheio de produtos contrabandeados. As prateleiras estavam mal se aguentando de peças quebradas e núcleos inativos. No meio da garagem, havia algo tampado com um plástico preto.

 

Benjamin sorriu e se aproximou, puxando a lona. A moto do modelo de última geração, lançada há menos de dez anos. Todo o material externo feito em obsidian negra, os circuitos em fios de ouro, chegando à velocidade máxima de dois mil quilômetros por hora.

 

O design era simples, mas seu modelo era tinha um acoplamento anatômico perfeito para corridas e também para o conforto do usuário. Sua largura permitia que o usuário pudesse perfeitamente se deitar sobre seu corpo, reduzindo a resistência do vento na velocidade.

 

A iluminação com tiras de led branco nas extremidades das rodas, tão largas quanto o resto do veículo, e para o farol, mais duas fitas grossas. O painel de informações era conectado ao capacete do condutor, dando toda a informação necessária para ele. Embora existissem alguns controles manuais na parte posterior, próximo às duas alças de direção.

 

Mas o mais importante: a moto era de uso exclusivo dos militares despertados. Um ser humano comum não conseguiria aguentar toda a potência dela. E era por isso, também, que existia um compartimento, à frente do motor, para guardar armas.

 

Benjamin não sabia como Alex havia conseguido uma dessas, mas assim que pôs os olhos nela, a quis. Se aproximou e ligou o painel digital, destravando o motor, movido por um pedaço do núcleo de uma estrela azul. O brilho e a falta de arranhões, indicava que o veículo quase não foi usado. Ele tirou a moto do lugar e viu um alçapão.

 

Ele se abaixou e digitou a senha numérica. Após a abertura do lacre, a porta do alçapão se abriu revelando uma maleta com a logo de uma empresa de tecnologia: Engenium Corpus. Benjamin, pensou se deveria mexer nisso, mas logo, por instinto, puxou a maleta para fora e colocou dentro do baú da moto.

 

Rapidamente, ele ligou a moto, que levitou no ar, subindo até o quarto andar, onde morava. Ben saltou para a varanda, abriu a porta e foi direto para a parede da cozinha, em frente uma pintura do mundo antigo.

 

— Mestre retornou! — Akasha cuidou bem da casa.

 

Benjamin ignorou o robô em fase rebelde e tirou o quadro da parede. Atrás da pintura, havia um cofre. Colocando a mão no leitor biométrico, ele se abriu. Dois pequenos cubos pretos com listras em azul neon conectadas na mesma logo da maleta.

 

Ele pegou um dos cubos e aproximou próximo do peito e já desviou de Akasha, indo em direção à Lucas e conectou o cubo no peito dele. Uma armadura de nanotecnologia que respondia ao corpo do usuário.

 

O capacete estava dentro da cômoda, num fundo falso. Benjamin abriu a gaveta e jogou tudo para fora tirando o capacete e o colocando. Ele se abaixou próximo à Akasha e tirou o núcleo de I.A. dela. Imediatamente, o pequeno robô ficou sem vida.

 

Benjamin não estava com um bom pressentimento. Estava fazendo tudo isso por pura precaução. Mas… precaução de quê?

 

De repente a luz retornou, fortalecendo ainda mais as sombras e a voz de Lira ressoou junto com o retorno da energia.

 

◤ALERTA DE INVASÃO ZERG◢

 

◤TODOS OS HABITANTES SE DIRIGIRAM AOS AEROPORTOS E POSTOS DE CONTROLE◢

 

O som robótico da voz da inteligência artificial cobriu toda a extensão do pequeno planeta com tamanho correspondente à metade da antiga Terra, o planeta-mãe. No mesmo instante, o caos tomou forma e as pessoas desesperadamente fugiram com as roupas do corpo para os aeroportos de emergência.

 

A Invasão zerg não os possibilitava sequer pensar em hesitar. As ruas ficaram lotadas e inúmeras naves brilhavam no céu noturno. Os postos de recarga de nêutrons em poucos minutos ficaram caóticos com tantos clientes.

 

Em menos de cinco minutos, o alerta da IA parecia ter sido repetido por uma vida.

 

◤ALERTA DE NÍVEL CRÍTICO◢

 

◤AEROPORTOS Nº 02, 03 E 07 COMPROMETIDOS◢

 

◤REALOCAR PARA OS POSTOS 01, 04 E 06◢

 

◤AEROPORTO 05 COMPROMETIDO◢

 

O barulho de uma explosão sacudiu todo Akasha 07.

 

◤AEROPORTO 05 COMPROMETIDO◢ ◤AEROPORTO 05 COMPROMETIDO◢

 

◤REALOCAR PARA OS POSTOS 01, 04 E 06◢

 

Benjamin ainda estava dentro de casa.

 

Estava terminando de ajeitar suas coisas e deitado sobre a cama, Lucas ainda se remexia de dor.

 

— Lira, conecte uma chamada para o Dr. Clive.

 

「Chamada sendo conectada…」

 

「Chamada conectada, Dr. Clive na linha」

 

A imagem holográfica apareceu.

 

[Onde você está?]

 

— Em casa. Lucas não está bem. Estou indo para a clínica.

 

[Não venha, está um caos aqui] Owen falou quando entrava na sala. [Estamos indo para a base militar no deserto. Nos encontre lá]

 

Tosse. Tosse.

 

— Tenho uma nave próxima do deserto. — Tosse.

 

Benjamin virou para trás, assentindo.

 

[Onde conseguiu essas armaduras, Ben?]

 

— Contrabandistas, eu trabalho com eles. — Respondeu sem hesitar e já ajudou Lucas a se levantar.

 

Benjamin passou a mão pela cintura firme do mais velho e passou o outro braço pelo seu ombro.

 

— Essas armaduras… — Havia alguma surpresa na expressão do militar.

 

— Economize esforço, Marechal. — Benjamin cortou o outro. — Lira, assim que sairmos, acione a autodestruição. Não deve sobrar nenhum rastro.

 

Benjamin chutou a grade e se aproximou da moto, montando sobre ela e ajudou Lucas a subir.

 

— Segure-se em mim.

 

Assim que ele terminou de falar, uma explosão estremeceu todas as construções próximas. Uma bomba havia sido redirecionada para a área residencial.

 

Os gritos de socorro que se seguiram ocuparam a audição de Ben. O fogo se alastrava rapidamente, devido a curta distância entre os prédios.

 

Acelerando a moto, ela voou pelo céu. Centenas de naves congestionaram o trânsito aéreo.

 

Benjamin olhou para os lados, buscando uma rota de fuga. Sem muita direção, ele tentou falar com os irmãos.

 

Não posso morrer aqui, ele pensou.

 

— Owen! Clive! – Ele chamou na ligação que não havia sido encerrada, mas a resposta foi apenas um silêncio perturbador. O sinal estava congestionado. – Clive! Clive… Owen…

 

Ben respirou fundo e se acalmou, mas avisos da IA ficavam cada vez mais furiosos e seu terminal, no pulso esquerdo, apitava a todo instante.

 

◤AEROPORTO 04 e 06 COMPROMETIDOS◢

 

◤[ALERTA DE EMERGÊNCIA] – PARA PROTEÇÃO DOS CIDADÃOS A REDE DE INTERNET SERÁ DESCONECTADA EM DEZ MINUTOS! INICIANDO CONTAGEM REGRESSIVA… [10:00]◢

 

— Lira, ligue o sistema experimental 4564.

 

「Sistema 4564 sendo ligado…」

 

「Carregando…」

 

「Carregamento concluído!」

 

「Alerta! Sistema 4564 é um arquivo desconhecido que pode afetar o sistema Lira, por favor, desligue!」

 

— Lira, entre em modo de hibernação.

 

「É necessário a confirmação para a hibernação」

 

— Confirmar.

 

「Seja bem vindo ao 4564, o que deseja mestre?」

 

— Hackeie o sistema platenátio e descubra tudo o que está acontecendo. Além disso, baixe todos os relatórios de saúde do paciente 025. – Benjamin ordenou a sua IA pessoal.

 

「Mestre, há um problema. Mais alguém está invadindo os dados, gostaria de implantar um cavalo de troia no sistema invasor?」

 

— Identifique o invasor primeiro, se for de alguém fora da federação jogue o Morpheus II[1].

 

「Mestre, esse vírus do sono ainda está em experimentação. Tem certeza?」

 

— Apenas mate esse invasor. – Respondeu impaciente enquanto pegava um anestésico no compartimento da moto e aplicou a injeção na perna. Ele fez uma careta de dor.

 

◤[AEROPORTO 01 COMPROMETIDO] – SISTEMAS DE NAVEGAÇÃO SERÃO DESLIGADOS EM CINCO MINUTOS ◢

 

— Marechal! Está acordado? — Mas não houve resposta do outro lado. — Marechal, acorde…

 

Foi então que Benjamin percebeu a respiração daquele homem estar quase inexistente.

 

N/A: Este é o ultimo capítulo deste ano de 2022! Boas festas e até ano que vem!!!

 

Glossário

 

[1]. Morpheus: De acordo com a mitologia grega, Morfeu era um dos filhos de Hipnos, o deus do sono, e representava a personificação dos sonhos. Morfeu é descrito como um ser alado e metamorfo, ou seja, dotado da capacidade de assumir várias formas diferentes.

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Tags:
cyberpunk, distopia, zergs
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